Colecção Jardins da Vitória: árvores e plantas provenientes do bairro da Quinta da Vitória
A Quinta da Vitória é um bairro auto-construído, que se situava na fronteira entre o Município de Lisboa e Loures, nas imediações do aeroporto de Lisboa. Este bairro começou a ser construído nos anos 60 por famílias provenientes do norte de Portugal. Com a descolonização e já posteriormente com o desenvolvimento das obras em Lisboa durante a “EXPO 98”, o bairro acolhe um grande número de famílias oriundas da Índia, em particular da cidade de Diu, e de África, nomeadamente de Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné e São Tomé e Príncipe, chegando a atingir o número de 5.000 habitantes.
Contudo em 1993 é implementado o P.E.R. (Plano Especial de Realojamento), dando-se inicio ao processo que levará à demolição deste bairro em 2014.

Ao longo de 40 anos, os habitantes do bairro plantam inúmeras espécies botânicas, a grande maioria proveniente da Índia e África. A plantação de árvores, o cultivo de hortas e de espécies ornamentais esteve sempre enraizada nos diferentes universos culturais presentes no bairro. Relacionando-se tanto com as necessidades de subsistência económica, como com a manutenção de práticas culturais, ligadas à gastronomia, medicina tradicional e cerimónias religiosas, promovidas pelos moradores do bairro.
A extensa plantação de cana-de-açúcar cultivada pelos moradores provenientes de Cabo Verde, possibilitava também aos moradores, desenvolverem os seus próprios meios de sobrevivência, através da venda de cana-de-açúcar e de produtos tradicionais, confeccionados a partir da cana-de-açúcar, como a aguardente de cana e o melaço, vendidos no bairro e no comércio paralelo.
O número significativo de plantas e árvores originárias da Índia, justificava-se pela forte presença da comunidade Hindu no bairro da Quinta da Vitória e pela sua necessidade religiosa, usando regularmente diferentes espécies botânicas em cerimónias religiosas. Encontrando-se sobretudo espécies transplantadas directamente da Índia, como o piprô, uma árvore considerada sagrada e usada diariamente no culto religioso.

O projecto Colecção Jardins da Vitória: árvores e plantas provenientes do bairro da Quinta da Vitória surge em 2012, já na fase final de demolição do bairro, quando se colocou a possibilidade de se transplantarem algumas das espécies botânicas presentes no bairro para salvaguardar a sua destruição e tentar reverter um processo de apagamento em curso, anunciado pelas demolições e desaparecimento do bairro da Quinta da Vitória.

O Arquivo das Plantas da Colecção Jardins da Vitória é constituído por 50 espécies botânicas, representativas do conjunto alargado de plantas e árvores existentes no bairro da Quinta da Vitória, provenientes de diferentes lugares como: Índia, Moçambique, Quénia, Portugal, Cabo Verde, Angola, Guiné e São Tomé e Príncipe.
Os exemplares presentes no arquivo das plantas foram identificados pelos próprios moradores, acompanhado pelo seu interesse em construir um jardim, que se veio a concretizar posteriormente com a construção de um jardim público nas imediações do bairro, com o nome: Colecção Jardins da Vitória: árvores e plantas provenientes do bairro da Quinta da Vitória.

Este jardim constituído por 20 espécies botânicas, seleccionadas do Arquivo da Plantas, integra um conjunto de placas de identificação das espécies botânicas, onde se inscrevem diferentes testemunhos dos moradores, interligando o uso destas espécies e a história de vida dos moradores do bairro da Quinta da Vitória.
Este jardim inscreve-se como um território conquistado, um repositório de memórias e de preservação cultural. É um espaço que pode ser vivido pelos antigos moradores do bairro, que podem continuar ai a usufruir e recolher algumas das suas espécies, como se oferece à comunidade local, residente nas imediações deste jardim.
Do conjunto de 50 espécies identificadas no Arquivo das Plantas, 20 espécies foram transplantadas para o jardim, tendo as restantes ficado no bairro, em particular as árvores de grande porte e outras, nos viveiros da autarquia.

Tendo a Colecção Jardins da Vitória resultado de um longo processo de pesquisa e criação artística inciado em 2006, por uma equipa multidisciplinar, em estreita colaboração com os moradores do bairro da Quinta da Vitória, juntaram-se outros elementos de natureza documental, recolhidos no local, Documentos e Moradores, como um testemunho (textos e fotografias) sobre o bairro da Quinta da Vitória, cedidos pelas crianças e moradores que viviam no bairro entre 2007 e 2009.
